terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Verdadeiro Significado do Perdão

Existe uma distorcida ampliação do conceito de perdão defendida por alguns grupos de hipócritas. Para eles, perdoar significa retornar à relação que existia antes do ato motivador. Desse modo, se, por exemplo, o marido agrediu a esposa e ela separou-se dele, é porque não o teria perdoado.


Portanto, conforme essa teoria, o perdão opera-se externamente: é preciso demonstrações visuais para testificar publicamente que ele ocorreu. Por causa disso, o ofendido torna-se duplamente vítima: sofre as consequências da pessoa que perpetrou um mal específico contra ele e padece de perseguição dos algozes baluartes, que hostilizam quem não se torna íntimo novamente de quem pede perdão.

Na verdade, apenas dois personagens deveriam atuar nesse “enredo”: o ofensor e o ofendido. No entanto, como se viu anteriormente, há uma plateia enxerida que costuma dar opiniões não autorizadas e, até mesmo, interferir no desfecho da trama. Em tese, o ofensor é o antagonista. Entretanto, quando o ofendido – a verdadeira vítima – se cala diante da solicitação de perdão, os espectadores hostilizam-no, transformando-o num vilão.

Por seu turno, o ofensor, num descabido processo de vitimização, é sagrado o mocinho e pobre coitado. Assim, em virtude dessa cruel e injusta inversão de papéis, o tema da história é desviado, o foco deixa de ser a maldade praticada por um personagem (e todas as implicações negativas de tal prática) para estar em quem se omitiu perante o pedido. Tramas com esse enredo incoerente são comuns em determinados ambientes religiosos nos quais o oferecimento da outra face é levado ao pé da letra (“literalismo suicida”).

É necessário respeitar também as pessoas que não pretendem oferecer perdão. Elas, não raramente, são pautas das conversas de “amigos” que parecem não se ocupar da própria vida. Eles comportam-se como gente prestativa e costumam alertar: “Olha, a falta de perdão ocasiona diversos males, como taquicardia, insônia e até mesmo doenças crônicas gravíssimas”.

Isso é um fato, ó Conselheiros de Meia Tigela, mas utilizem-se desse talento de interferir na privacidade alheia para mostrar aos indivíduos maquiavélicos que eles causam infortúnios muito maiores às suas vítimas. Dessa maneira, vocês estariam desenvolvendo um “trabalho” preventivo: evitaria tanto os males fiscos e emocionais da falta de perdão quanto os resultados práticos devastadores das ações perpetradas por tais energúmenos. Mas essa sugestão é descabida, não é? Afinal, o que vocês querem, de fato, é assistir ao circo pegar fogo e ver os palhaços se agonizarem.

O não-retorno ao relacionamento revela muito mais do que uma quebra de confiança: representa a necessidade de proteger-se. Avente essa suposição: seu melhor amigo frequentou sua casa durante anos e, praticamente, fazia parte da sua família. Um dia, sua filha é abusada sexualmente por essa pessoa que você tanto estimava. E então, você colocaria em risco sua filha novamente apenas para justificar publicamente que perdoou o calhorda? Abriria novamente a porta para ele?

O sentido autêntico do perdão tem de ser respeitado. Existem grupos farisaicos que julgam – e “condenam” – mais a pessoa que não perdoa o assassino do irmão dela do que o próprio assassino (incoerência desmedida). E que tratam com crueldade a vítima que não retorna a relacionar-se com o ofensor. Ora, o ato de perdoar é inegociável, espontâneo e individual. É necessário que ele ocorra não porque o ofensor implorou, mas porque o ofendido sentiu-se verdadeiramente, e no tempo apropriado, que deveria fazê-lo. 

Imagem: stock.xchng
Fonte: www.ponderantes.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário