Seis meses após o terremoto que deixou mais de 20 mil mortos no Japão, uma senhora de 82 anos encontra exemplos para superar as adversidades.
Há seis meses, um terremoto seguido de um tsunami deixou mais de 20 mil mortos e desaparecidos no Japão. Para lembrar a data, houve muitas orações. Um momento de luto acabou marcado por um escândalo. Uma semana depois de assumir o cargo, um ministro foi demitido por falar o que não devia, na hora errada e no lugar errado.Em uma visita à região isolada por causa de radiação, em volta da usina de Fukushima, o ministro da Economia, Yoshio Hachiro, chamou o local de “cidade da morte”. Ao chegar a Tóquio, ele se aproximou de um jornalista e disse: “Quer um pouco de radiação?”. Envergonhado, pediu demissão. Já é o segundo ministro japonês que perde o cargo por comentários inapropriados sobre as tragédias de março.
O país ainda sofre as consequências. Apesar de o racionamento de energia ter terminado oficialmente na sexta-feira (9), os japoneses seguem economizando. As tragédias foram lembradas com um minuto de silêncio no domingo (11) e com protestos contra a energia nuclear. Em Tóquio, a manifestação terminou com 12 presos.
Mas o Japão encontra exemplos para superar tantas adversidades. Se sobreviver a um tsunami já é difícil, imagine a dois? Uma senhora de 86 anos foi capaz dessa proeza. Com os olhos atentos, crianças e adolescentes ouvem espantados a extraordinária história de Yoshi Tababa, uma senhora de 86 anos que conseguiu sobreviver a dois tsunamis. Depois do primeiro tsunami, em 1933, Dona Yoshi passou a dar palestras nas escolas da região alertando para as ondas gigantes, um perigo constante no Japão. Ela fez desenhos para ilustrar a história.
O bairro de Taro, onde ela morava antes do tsunami, ficou diferente depois da passagem da onda. A família fugiu para uma montanha. Foi preciso passar por baixo de uma cerca. Dona Yoshi, na época com 8 anos, conseguiu, mas a mãe ficou presa. O desenho mais dramático mostra a mãe sendo levada de maca para o hospital, onde morreu poucos dias depois.
A história emociona. “Tivemos uma ótima oportunidade de refletir sobre a vida e valorizá-la mais do que antes”, disse a mãe de um dos alunos.
No terremoto de 2011, o bairro foi novamente arrasado. Dona Yoshi morava em uma rua onde é difícil saber o endereço preciso, porque a casa desapareceu. Assim como as casas dos vizinhos, Taro se tornou uma terra arrasada. O entulho deixado pelo tsunami já foi todo retirado, mas é difícil imaginar que algum dia existiu um bairro no local.
Dona Yoshi vive agora com uma filha em outra cidade. "No caso de tsunami, não se pode pensar em outra coisa senão fugir. Mas nem todos levam a sério esse conselho. Eu fiquei traumatizada. Toda vez que acontecia um terremoto, saía correndo de casa e não via ninguém na rua. Até meus filhos riam de mim e diziam que eu era exagerada”, ensinou Dona Yoshi.
Os desenhos já viraram um livro, traduzido para o inglês. Em um país castigado por tragédias naturais, Dona Yoshi representa a capacidade de resistir e sobreviver dos japoneses. Na canção que canta nas escolas, ela diz: “Nunca esquecerei o terror do tsunami. Agora o mar está calmo. O mar triste, o mar da minha terra”.